Após Branca de Neve (2024), Lilo & Stitch era o próximo clássico na lista da Disney a ser premiado com um remake live-action. A questão é: será “premiado” o termo mais adequado? Neste início de verão, Stitch aterra no Havai e conhece Lilo mais uma vez, mas nem tudo está igual à versão animada de 2002. Os nesta produção são, na sua maioria, diferentes dos presentes na iteração original, gerando algumas mudanças, infelizmente, mais negativas do que positivas.

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O enredo mantém-se relativamente semelhante. Após a experiência 626 (Stitch) escapar a sua terminação no planeta Toru, colide com a ilha havaiana de Kaua’i e, consequentemente, com a vida e família de Lilo Pelekai. A natureza destrutiva de Stitch não impede Lilo de se afeiçoar à criatura, o que acaba por se tornar também num ponto de desenvolvimento para a experiência.

No entanto, os obstáculos a esta relação mantêm-se firmes: Por um lado, Dr. Jumba, criador de Stitch, infiltra-se na Terra para recuperar a sua experiência e levá-la de volta; por outro, Nani, irmã mais velha de Lilo, luta para manter a sua custódia. Entre personagens humanos e intergalácticos, as suas identidades são relativamente bem conservadas, ainda que o aspeto live-action retire consideravelmente parte da personalidade e magia da animação 2D.

Lilo permanece uma criança turbulenta e pouco compreendida no início do filme e a energia caótica de irmãs nas discussões com Nani são fielmente adaptadas. Stitch é intocado, porém o mesmo não se pode dizer quanto a Jumba. O desfecho da personagem é vastamente diferente da variante animada, desta vez prendendo-o a manter-se um vilão irremediável em vez de lhe dar a flexibilidade para deixar esse caminho de lado.

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De modo geral, a recessão medíocre do filme está diretamente relacionada às mudanças feitas ao enredo. Não se trata apenas da caracterização pobre de certas personagens, mas de decisões fundamentais na história que podem ter tornado o filme menos atrativo. Por exemplo, a exclusão de Gantu – um agente intergaláctico presente na versão de 2002, enviado para capturar Stitch, independentemente do plano de Jumba e Pleakly – obriga a que haja uma ameaça extra à narrativa, a qual acaba por se localizar em Jumba.

A “vilanização” do inventor permite que seja contestado o tema principal do filme: a família e a união que vem com ela. No entanto, mesmo reforçando esta mensagem mais do que uma vez, não impede o longa-metragem de a contradizer com o final mudado que apresenta. Entre outras críticas à superficialidade que afeta a produção cinematográfica, a origem dada ao nome Stitch Nani e indica o “reparo” que será preciso, Lilo imediatamente nota esta situação e nomeia a experiência de “Stitch”, tal como o verbo se aplicaria.

Apesar de não estar explícito na produção original, “Stitch”, ou “costurar” /” remediar”, deve referir ao modo como a experiência 626 acaba por ser a que salva a família “quebrada” de Lilo de se separar por completo. De facto, este significado escondido potencia a profundidade dos temas abordados em Lilo & Stitch (2002), mas não propriamente em Lilo & Stitch (2025).

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Apesar da repetição de velhos e icónicos momentos vindos do longa-metragem animada, do bom trabalho de CGI nos modelos das criaturas interplanetárias e mesmo da decente atuação, as mudanças no roteiro e alterações em relação à obra original tornam-se demasiado significativas. Com estes remakes, torna-se claro que a mudança estética não é o único interesse da Disney, mas por vezes reformular o rumo de uma história para  torná-la, de certa forma, um pouco mais realista.

Também se tem revelado evidenteque esta tendência neste tipo de filmes não simpatiza com os fãs dos clássicos. Quando muito, apenas servem para mostrar como a estratégia de mercado baseada em nostalgia da Walt Disney Studios Motion Pictures ao reciclar algumas pérolas do passado, não contribui positivamente para o legado dessas obras antigas nem alegra os fãs delas. O seu sucesso monetário, todavia, leva à possibilidade que a tendência ainda tenha uma longa vida.