Mixes of a Lost World é o mais recente projeto dos The Cure, que nos apresentam, na verdade, uma reconstrução do seu célebre álbum, Songs of a Lost World (2024). A banda britânica lançou, no dia 13 de junho, 24 faixas que recriam, reinterpretam e revestem de remixes as músicas originais do seu penúltimo trabalho.
Para além de, obviamente, revelar um lado inovador, Mixes of a Lost World destaca-se pela sua profundidade musical e sentimental. O ouvinte torna-se o verdadeiro protagonista, acompanhado por esta banda sonora que representará as suas memórias e as suas vivências.
As faixas eletrónicas, impulsivas e aditivas serão apenas a reflexão da história de quem as ouve, transformando os momentos de felicidade, de tristeza, de raiva e até paixão em notas musicais. Já os versos cantados por Robert Smith, vocalista da banda, são apenas pequenas legendas que completam a vida do ouvinte.
I Can Never Say Goodbye – Paul Oakenfold “Cinematix” Remix é a canção de abertura, não só do álbum, mas também da série que o ouvinte protagonizará. É o início de uma nova etapa, que ficará marcada por mudanças e desafios, uma vez que as batidas extremamente brutas criam uma atmosfera sonora um pouco sombria e funcionam, igualmente, como presságios. Esta vertente mais cinematográfica, que é indicada pelo título, ajuda ao visionamento desta história utópica, conseguindo, deste modo, uma maior aproximação com quem a ouve.
A segunda faixa, Endsong – Orbital Remix, dá continuidade ao ambiente tenebroso, enfatizando-o com a criação de um efeito de uma coluna giratória à volta do ouvinte. Este é, deste modo, absorvido pela composição de Robert Smith que confessa não ter absolutamente nenhum sonho nem esperança (“No hopes, no dreams”), afirmando que não pertence a este mundo (“I don’t belong here”).
A energia de Mixes of a Lost World é transformada com a quinta canção, A Fragile Thing – Âme Remix. A personagem principal (o ouvinte) é agora confrontada com uma energia vibrante, romântica e intensa, marcada pelo som de um baixo, que lembra a batida fervilhante do nosso coração quando estamos na linha da frente num concerto.
A letra, contudo, aborda a dualidade do sentimento do amor: apesar de ser um dos mais fortes, é igualmente um dos mais frágeis (“This love is a fragile thing”). Este confronto é ainda destacado pelo ritmo acelerado com que Robert canta, revelando uma certa urgência nas suas palavras.
A sétima faixa é, sem dúvida, uma das mais animadas e fluidas de todo o álbum. O seu instrumental é a principal atração, que transporta o ouvinte para um mundo onde este se sente um verdadeiro campeão, conduzido pela euforia, adrenalina e glória.
Alone – Four Tet Remix segue a mesma direção dinâmica que a canção anterior. Todavia, algo na sua produção parece transcendente, que ultrapassa os limites do mero Planeta Terra. Pode ser, por isso, considerada uma meditação atípica, onde o protagonista conseguirá refletir sobre quem é e realizar uma introspeção fora do silêncio habitual.
A canção número 16, All I Ever Am – Mura Masa Remix, mantém, no seu começo, a mesma aura de Songs of a Lost World, caindo, mais tarde, no precipício de uma rave: converte-se numa música com uma batida extremamente eletrónica e com um loop aditivo, que lembra momentos festivos e felizes.
Porém, presenciamos um caso típico de batida feliz e uma letra triste. All I Ever Am é o perfeito retrato de uma pessoa que pensa demais, o conhecido overthinking. Por um lado, o compositor afirma pensar em tudo o que já vivenciou (“I think too much of all that’s gone”), sendo obcecado por avaliar todas as suas decisões passadas (“Obsessed with choices made for sure”), e, por outro lado, pensa demasiado sobre aquilo que está para vir (“I think too much of all to come”), refletindo sobre as consequências de envelhecer (“My weary dance with age”). Opõe, portanto, uma produção eufórica a uma confissão sofrida.
Warsong – Chino Moreno Remix é a vigésima primeira canção e a segunda mais popular de Mixes of a Lost World. Regressa novamente com o instrumental melancólico e obscuro. Com o tom angustiado de Robert Smith, a faixa é a banda sonora ideal para um momento em que o ouvinte necessita de libertar todas as suas emoções e precisa de gritar ou chorar.
Os versos cantados contribuem igualmente para a crescente raiva ou tristeza. Declaram a história de duas pessoas que apenas conhecem uma forma amarga de conviverem (“All we will ever know/Is bitter ends”), suscitando, assim, um pensamento esperançoso sobre o que poderiam ser se não tivessem nascido assim (“For we are born to war”).
A última faixa, Endsong – Mogwai Remix, é, sem dúvida, uma música de despedida e de encerramento deste capítulo (ou talvez da vida). O instrumental é deveras arrebatador, conseguindo emergir o ouvinte num mundo utópico e impenetrável. Pode ser considerado o tema final da série que é criada a partir do momento em que o futuro protagonista clica no botão play de Mixes of a Lost World.
Mixes of a Lost World é um projeto que prioriza a criatividade, a inovação e a quimera.
Artista: The Cure
Álbum: Mixes of a Lost World
Editora: Polydor Records
Lançamento: 13 de junho de 2025



