Vivemos numa época em que nunca foi tão fácil obter informação, no entanto, esta parece que não chega a todos, não por ser insuficiente, mas por ser cada vez mais difícil captar a atenção do público.  É aqui que a cultura aparece, talvez um pouco inesperadamente, como o meio mais cativante de proliferar informação.

No que toca à política, o interesse é cada vez menor, especialmente nos jovens. Isto não quer dizer que os jovens não querem saber da política, que não estão interessados em como anda o país, como tantas vezes se ouve dizer. Quer dizer apenas que a forma de fazer política e de a partilhar está antiquada, não é adaptada aos novos eleitores. Fartos dos mesmos chavões, discursos intermináveis e programas eleitorais vazios, é aos conteúdos de entretenimento digital que os jovens acabam por ouvir. Assim, a cultura digital toma agora um pouco do trabalho que outrora era apenas dos jornalistas e meios de informação convencionais.

A série “Bom Partido”, criada pelo comediante Guilherme Geirinhas, prova exatamente que é possível e até eficaz misturar humor, cultura e política. Esta fórmula cativa o público jovem, torna-o mais informado, mais envolvido. É a sentar os candidatos à Assembleia da República numa sala da própria assembleia, a beber cerveja ou a falar da sua juventude que Geirinhas os torna em mais do que apenas caras em cartazes e faz as perguntas que muitas vezes ficam por fazer. Afinal, para um jovem, uma conversa informal pode dizer muito mais que um debate aceso.

Esta série não é o único caso que coloca política e humor em pé de igualdade. O caso mais conhecido, e que talvez chama mais à atenção, é o programa “Isto é gozar com quem trabalha”, encabeçado por Ricardo Araújo Pereira. Apesar de ser um programa televisivo, excertos do mesmo acabam por circular nas redes sociais e cativar quem os vê. O humor, a linguagem mais acessível e as frases mais atrevidas tornam o complicado e enfadonho nalgo compreensível e interessante. Programas radiofónicos, como a “Prova Oral”, de Fernando Alvim, também se tornam fontes um tanto alternativas de obter informação por, mais uma vez, a colocarem de forma diferente e astuta.

É no Instagram que surgem também várias iniciativas que têm como objetivo fazer chegar a informação política ao maior número de pessoas possível, de forma acessível. Perfis como “euvoto”, “os230.pt” e “apolíticadebolso” fazem chegar a informação a um público mais vasto, a partir de publicações e vídeos apelativos ao olho jovem que ajudam a simplificar a informação e a responder a algumas questões que um órgão de comunicação convencional não esclareceria.

Estas iniciativas apenas demonstram um interesse em participar, em compreender. A cultura sempre foi palco para a intervenção. Sempre esteve ligada à política, de uma forma ou de outra. Porque não utilizá-la para espalhar e simplificar informação? É com cultura que se discutem ideias, partilham opiniões e se organizam mudanças.

Antes de estar nas urnas, a mudança está em nós. Cabe-nos estar atentos, procurar saber mais, estar envolvidos. E porque não fazê-lo com um pouco de humor à mistura?