O rapper sueco Jonatan Leandoer, conhecido popularmente como Yung Lean, deixou cair a cortina a 2 de maio com o lançamento do seu álbum mais íntimo até agora, Jonatan. Neste trabalho autointitulado composto por 13 faixas, abandona a névoa que tem envolvido a sua persona e revela-se com uma nova maturidade crua e desarmada.

Kenneth Cappello para Sneeze Magazine #63

Reconhecido como uma figura influente do cloud rap, Yung Lean tem vindo a explorar outras sonoridades sob o pseudónimo jonatan leandoer96, onde se afasta do rap e experimenta sem limites. No entanto, desta vez, fez diferente e decidiu assinar o disco mais vulnerável da sua carreira com o nome que o tornou famoso.

A 21 de fevereiro, com o lançamento do primeiro single “Forever Yung”, delineou as expectativas para este novo projeto. Num ritmo enérgico e otimista, a faixa olha para o passado com gratidão e melancolia, atravessando os altos e baixos da sua história pessoal e artística. O videoclipe, uma ode aos fãs e à família, transforma esta numa das músicas mais reconfortantes do álbum, incentivando o ouvinte a abraçar a sua autenticidade.

A autorreflexão atravessa todo o disco, e em “Horses” ela ganha forma como um desejo urgente de deixar tudo para trás e correr livre, tal como um cavalo selvagem. Já em “Babyface Maniacs”, são destacadas a resiliência e vontade de seguir em frente, mesmo quando tudo pesa. A letra, carregada de imagens enigmáticas, deixa espaço para múltiplas leituras. Por outro lado, o videoclipe ajuda a decifrar o sentimento por trás da canção, mostrando Lean a fugir simbolicamente do seu passado turbulento, determinado a não olhar para trás. A ligação entre os vocais carregados de emoção e o instrumental poético faz desta música o ponto mais alto do disco. E é impossível ignorar o desfecho: uma melodia de cordas hipnótica, que nos arrasta para um outro universo onde a esperança toma o controlo.

Yung Lean mantém-se preso à sua tendência de olhar, constantemente, para o passado, o que acaba por tornar alguns temas do álbum repetitivos. Em “Changes”, volta a revisitar os altos e baixos da sua carreira, reforçando a importância de continuar em frente. “My Life” retoma essa ideia, com Lean a descrever-se como uma “pedra rolante”, alguém incapaz de permanecer no mesmo lugar por muito tempo. Em “Swan Song” mostra quantas vezes a sua vida esteve por um fio, tanto literal como simbolicamente, no entanto, persistiu. Apesar da força emocional destas faixas, acabam por se diluir umas nas outras, perdendo impacto dentro do contexto da obra.

Numa mudança de clima, a sétima faixa “I’m Your Dirt, I’m Your Love” oferece uma melodia envolvente, acompanhada por uma letra profundamente poética e apaixonada. A dualidade entre “dirt” e “love” interpreta-se como uma complexidade na completa devoção a um parceiro. A leveza e ternura que transmite conferem-lhe um lugar especial dentro do alinhamento do álbum.

Em contraste, “Paranoid Paparazzi” descreve o oposto do amor. A batida simples realça a letra, também enigmática, que parece descrever uma relação que o moldou num reflexo do que a outra pessoa queria, e não no seu eu verdadeiro. Com vocais quase murmurados e uma participação em sueco de Ani Ellen, ex-parceira do artista, a faixa ganha uma aura íntima e delicada. A sua força e intensa presença, destacam a faixa como um dos pontos culminantes do disco.

A obra termina com “Lessons from Above”, uma reflexão sobre lições que parecem vir de um plano superior, talvez até espiritual. Descreve uma constante repetição dos mesmos erros e incapacidade de aprender com eles, apesar da consciência dos mesmos. Esta faixa apresenta uma provável crítica ao ciclo vicioso em que o mundo se encontra. Destaca-se pelo seu final, que faz loop com a faixa de abertura, “Jonatan Intro”.

É de venerar a transparência de Yung Lean neste disco tão audacioso. Apesar de alguns momentos menos marcantes, seja pela repetição temática ou por vocais que por vezes ficam aquém, o disco destaca-se como uma das obras mais autênticas do artista. A sua honestidade bruta e singularidade emocional conferem-lhe um lugar especial na sua discografia. Obras como esta merecem ser celebradas e é difícil não ficar entusiasmado com a possibilidade de mais capítulos assim no seu futuro artístico.