As doenças neurológicas são a segunda principal causa de morte e são a liderança em termos de anos vividos com incapacidade.

Promovido globalmente pela World Federation of Neurology, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as Nações Unidas (ONU), este dia visa consciencializar para o impacto crescente das doenças neurológicas na sociedade. De acordo com o relatório publicado pela OMS, em março de 2024, as doenças neurológicas são atualmente a segunda principal causa de morte e a principal causa de anos vividos com incapacidade no mundo. A mesma publicação indica que mais de 3.4 mil milhões de pessoas (mais de um terço da população global) vivem com uma ou mais condições neurológicas, como acidentes vasculares cerebrais (AVC), demência, epilepsia, enxaqueca ou doença de Parkinson.

Em Portugal, o cenário não é diferente. Os acidentes vasculares cerebrais (AVC) continuam a ser a principal causa de mortalidade e incapacidade neurológica em adultos. Em 2023, registaram-se aproximadamente 15 milhões de AVC no mundo, responsáveis por cerca de 10% das mortes globais. Em paralelo, a demência afeta mais de 55 milhões de pessoas a nível mundial, com a previsão de triplicar até 2050. Em conjunto, estas patologias exercem uma pressão crescente sobre os sistemas de saúde, exigindo respostas cada vez mais integradas e eficientes. A epilepsia afeta cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, enquanto a doença de Parkinson poderá atingir os 12 milhões de casos até 2040. A enxaqueca, por sua vez, é uma das maiores causas de incapacidade, com uma prevalência global de cerca de 15%.

Apesar da gravidade do quadro, existe uma margem significativa para intervir. A Federação Mundial de Neurologia estima que até 40% dos casos de doenças neurológicas possam ser prevenidos através de mudanças nos estilos de vida e estratégias de prevenção precoce. Práticas como o controlo da tensão arterial, a cessação tabágica, uma alimentação saudável e a prática de exercício físico regular são fundamentais para preservar a saúde cerebral ao longo de toda a vida. Um sono de qualidade, a manutenção de relações sociais e os estímulos cognitivos também são importantes. Um estudo de 2021 intitulado “Applications of Artificial Intelligence to aid detection of dementia” destaca o papel da inteligência artificial (IA) na deteção precoce, reforçando que a combinação de alterações de estilo de vida e tecnologia diagnóstica pode transformar o panorama das doenças neurodegenerativas.

Em abril deste ano, realizou-se, em Lisboa, o European Congress on Neurology and Brain Disorders, no Hotel Travel Park. O evento reuniu neurologistas e pesquisadores de todo o mundo, sob o mote “Cognitive Crossroads: Navigating the Future of Neurology and Brain Health”. Este congresso revelou-se uma plataforma essencial para a partilha de evidências científicas e estratégias de prevenção, conferindo visibilidade a iniciativas em Portugal. Reforçou a necessidade de ação integrada entre investigadores, profissionais de saúde e decisores políticos.

O Dia Mundial do Cérebro  é, por isso, mais do que uma data simbólica. É também uma oportunidade para refletir, agir e exigir mais investimento na prevenção e no tratamento das doenças neurológicas. Num mundo em constante envelhecimento, investir na saúde cerebral significa garantir autonomia, dignidade e qualidade de vida. Afinal, um cérebro saudável é o melhor capital para viver com plenitude.