Após 3 anos de grande antecipação, Hayden Anhedönia regressa, a 8 de agosto, com Willoughby Tucker, I’ll Always Love You, a prequela do seu aclamado disco de estreia, Preacher’s Daughter (2022). Em 10 envolventes faixas, Ethel Cain entrega um trabalho aprimorado, onde a poesia da letra se funde com a riqueza sonora, desde os elementos pop e country até aos instrumentais drone.
Willoughby Tucker, I’ll Always Love You abre portas à adolescência da personagem Ethel, destacando as pessoas que lhe marcaram o caminho, sobretudo o rapaz que deu título à obra. A artista conduz-nos por uma jornada densa e dolorosa, revelando o lado sombrio de uma relação inicialmente pintada como um quadro perfeito.
Janie, melhor amiga de infância de Ethel, é quem dá início a esta história. A protagonista implora-lhe que não a abandone agora que encontrou um namorado. Sente-se deixada para trás pela única pessoa que verdadeiramente a compreende, levando-a a confessar ao parceiro “I know you love her/But she was my sister first”. Neste disco vocalmente versátil, Cain transmite o desespero da personagem através dos seus vocais lentos e suaves, que se entrelaçam perfeitamente com o ritmo da guitarra.
Esta tocante introdução é seguida pelo primeiro de três instrumentais, Willoughby’s Theme, que, possivelmente, representa o início da relação dos protagonistas. Ao longo destes cinco cativantes minutos, ouvimos a inocente melodia de um piano que, gradualmente, se intensifica, acompanhado de uma guitarra.
A instabilidade da união entre Willoughby e Ethel torna-se evidente logo na terceira faixa, Fuck Me Eyes, que serviu de segundo single da obra. Sobre um ritmo synth-pop mais comercial, esta é a American Teenager (2022) do novo disco. Ethel descreve, sarcasticamente, a sua colega de turma Holly, fazendo o ouvinte acreditar que ela é uma rapariga irrespeitável. No decorrer da faixa, os seus verdadeiros sentimentos revelam-se, culminando com a intensificação vocal e instrumental, onde reconhece “I’ll never be the kind of angel/He would see”.
Em verdadeiro estilo Ethel Cain, oito minutos de suaves melodias e vocais parecem apenas um instante em Nettles. Entre os seus trabalhos mais magistrais liricamente, a faixa reflete sobre o futuro incerto do casal, que causa uma inquietação na sua consciência como as urtigas na pele. Aqui, a personagem já começa a prenunciar ao inevitável destino do parceiro, em letras como “You’ll go fight a war, I’ll go missing”. Tal como a icónica House in Nebraska (2022), esta faixa semeia estrategicamente elementos-chave desta complexa narrativa que, mais tarde, se revelam com clareza.
A favorita dos fãs, Dust Bowl, é-lhes finalmente entregue, anos após vários teases e performances ao vivo. Distingue-se pelo seu tom mais leve comparado às outras faixas do álbum, descrevendo uma fase de crescimento do casal. É também aqui que Ethel descobre verdadeiramente a sua paixão por Willoughby, afirmando “But when you/Said that you’re in love/I never wondered if you’re sure”. A faixa slowcore é indiscutivelmente um dos pináculos do disco, destacando-se pelos vocais graves, lentos e sedutores e pela guitarra elétrica que atinge o auge no último refrão.
O misterioso instrumental, Radio Towers, e a devastadora, Tempest, chegam como um par inseparável, criando uma fluída transição sonora. Contada do ponto de vista de Willoughby, Tempest mergulha na batalha interior da personagem, assim como o abuso de substâncias ilícitas, tema que também surge em A Knock At The Door. A hipnotizante mistura dos registos vocais agudos e graves transmite um sentimento de dualidade em quaisquer que tenham sido as decisões tomadas por Willoughby no final. A composição encerra abruptamente após três minutos de repetição da palavra “forever”, simbolizando o tempo infinito em que ele este prevê o arrependimento pelas suas escolhas.
Os génios literário e musical de Ethel Cain mantêm-se intactos no desfecho, Waco, Texas. A constante batida da bateria no decorrer da faixa une-se aos vocais angelicais que cantam as frases mais atormentadoras de toda a sua discografia. Ao longo de 15 esmagadores minutos, os mundos de Preacher’s Daughter e Willoughby Tucker, I’ll Always Love You colidem, enquanto Ethel revive toda a sua história com Willoughby. “I can wait if I want/But it’ll never be good enough like I wanna believe it is” é a frase que encerra a narrativa. A protagonista finalmente percebe que as versões idealizadas que tinha do parceiro e da sua relação não correspondiam à realidade, e aceita o seu inevitável fim.
O mistério e incerteza que envolvem toda a obra é o charme que define a arte de Hayden Anhedönia. Assim, o ouvinte anseia pelo final da trilogia que será contado da perspetiva da mãe de Ethel, Vera Cain. Um devastador momento de “pessoa certa, hora errada”, Willoughby Tucker, I’ll Always Love You deixa uma cicatriz profunda, servindo como um perfeito adeus a estas estimadas personagens.
Artista: Ethel Cain
Álbum: Willoughby Tucker, I’ll Always Love You
Editora: Daughters of Cain Records
Data de lançamento: 8 de agosto de 2025



