Benny Safdie venceu o recente Leão de Prata, no Festival de Cinema de Veneza, com o seu debut cinematográfico a solo, The Smashing Machine, estrelando Dwayne Johnson. Já Josh Safdie prepara-se para o lançamento, este Natal, do seu debut, também a solo, Marty Supreme, estrelando Timothee Chalamet. Ambos os filmes serão uma mostra curiosa das diferenças artísticas dos dois irmãos, assim como serão o teste que provará se funcionam separados ou somente juntos. Tendo isto em conta, faz sentido revisitar o filme que levou a dupla ao estrelato e encantou plateias, Good Time.
Connie (Robert Pattinson) tinha o plano de assaltar um banco e, com esse dinheiro, recomeçar uma vida nova juntamente de Nick (Bennie Safdie), o irmão mais novo, que sofre de problemas mentais. Contudo, o golpe corre mal e Nick é capturado pela polícia. Consequentemente, Connie embarca numa jornada pelo submundo de Nova Iorque para tentar arranjar dez mil dólares e libertar o irmão da prisão.
O filme aborda problemáticas sociais e como as dinâmicas variam de pessoa para pessoa dependendo do seu estatuto social. Mas fá-lo sempre de uma maneira inteligente, mostrando que, apesar de estar a fazer um comentário social, não o faz com a intenção de ser uma lição de moral. O enredo simplesmente tem noção do funcionamento do mundo e relata como tal pode beneficiar ou prejudicar certas personagens. Por exemplo, Connie, um homem branco, usa constantemente as pessoas negras que o rodeiam para seu próprio benefício, porque sabe que tem poder e credibilidade sob elas nos olhos da polícia.
Estas dinâmicas também são capazes de caracterizar a personagem em alguém insensível e apático aos danos que causa às pessoas que usa, tendo sempre um único objetivo – salvar-se a si próprio. Tal é demonstrado também pela forma como trata o seu irmão. Apesar de estar em missão para o libertar da prisão e proclamar amá-lo, não o deixa completar os seus tratamentos e manipula-o de maneira a aderir aos seus planos. Desta forma, o filme apresenta um anti-herói, desafiando o senso crítico do espectador. O enredo não nos pede para simpatizar com Connie ou Nick, mas, sim, para fazermos o nosso próprio julgamento da história complexa destes dois irmãos.
Embora seja uma visualização stressante, encanta pela sua sensibilidade. Nunca se esquece das motivações e consequências humanas que movem as personagens, apesar das personalidades destruidoras das mesmas e dos contextos violentos em que estão inseridas. Trata-as com respeito, dando-lhes a profundidade necessária para entender as suas motivações. Tal torna o filme num ótimo caso de estudo sociológico, provando, assim, a sua envolvência e complexidade.
Os irmãos Safdie demarcam-se com um estilo bastante característico, imergindo-se na confusão e sucessão conturbada de eventos do enredo, criando um ritmo rápido e ansioso. Desta maneira, torna o conflito mais palpável e sobe a tensão, o que aproxima o espectador das personagens. Tal prova a inteligência e proficiência dos realizadores, pois são capazes de complementar a intensidade do guião com a realização meticulosamente caótica. Conjugam tudo isto, ainda, com uma cinematografia colorida e fluorescente, capaz de sobrecarregar a visão do público. Tira proveito de luzes fortes e da saturação de cor para estimular e cansar, de forma a que a queda no desespero e ânsia seja quase inevitável.
Através desta longa-metragem, Josh e Bennie Safdie foram capazes de fazer ouvir as suas vozes no meio de uma indústria tão saturada. A sua originalidade captou tanto audiências como críticos, criando expectativas para a dupla que foram alcançadas com o seu seguinte projeto, Uncut Gems. Desta forma, provaram a sua excelência como dupla e tornaram-se nuns dos cineastas norte-americanos mais entusiasmantes da contemporaneidade.
Realização: Josh e Bennie Safdie
Argumento: Josh Safdie e Ronald Bronstein
Elenco: Robert Pattinson, Benny Safdie, Buddy Duress, Taliah Webster
2024
Estados Unidos da América





