Publicado pela primeira vez em 2004, o livro “O Vendedor de Passados” foi reeditado pela Quetzal Editora em 2017. Tendo como pano de fundo Angola, país do seu autor, José Eduardo Agualusa, o romance galardoado com o Prémio de Ficção Estrangeira Independente em 2007 promete um enredo intrigante e personagens singulares.

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A atenção do leitor prende-se, desde a primeira página, no facto de a narração ser realizada por uma osga-tigre, Eulálio. Este animal noturno vive nas paredes e nos livros guardados dentro de uma casa, com medo de transpor para o quintal. O mais curioso é que a personagem é osga há 15 anos, tendo sido um ser humano antes disso. Não será difícil adivinhar a profissão que exercia: a de bibliotecário.

A crença na reencarnação é, assim, um dos tópicos mais abordados na obra. Os capítulos curtos são intercalados pelas descrições de sonhos que a osga vai tendo. Neles, Eulálio passa tempo como humano com as outras personagens do livro, tendo um forte impacto na história e na compreensão da mesma.

“Ora, nunca voei com tanta verdade, inclusive com tanta autoridade, quanto nos meus sonhos. Voar de avião, na época em que eu voava de avião, não me transmitia um idêntico sentimento de liberdade.”

Já o dono da casa é nada mais nada menos do que quem dá título ao livro: Félix Ventura, o “vendedor de passados”. O seu negócio é o de dar “falsos passados” aos clientes que, geralmente, pretendem ter uma ligação a memórias que transmitam maior sucesso na vida. É o caso de uma personagem brasileira que se apresenta sem nome, mas acaba por se tornar em José Buchmann, um homem com uma longa carreira a fotografar guerras. É, aliás, um dos mendigos que fotografa quem mais muda o rumo da história.

Cada parágrafo de “O Vendedor de Passados” está repleto de metáforas e reflexões que fazem o leitor questionar. São abordados temas como as desigualdades sociais (“a miséria faz imenso sucesso nos países ricos”) e o conflito entre a autenticidade e a ficção da memória. Este livro deixa a vontade de conhecer mais sobre a prosa de José Eduardo Agualusa.