Hoje,19 de setembro de 2025, no 40º aniversário de falecimento do autor, que partiu aos 61 anos, vítima de sequelas de um AVC, celebramos o que em vida proporcionou ao mundo literário.
Italo Calvino nasceu a 15 de outubro de 1923 em Santiago de las Vegas, Havana, Cuba. Apesar de um nascimento latino, o sangue italiano marcou toda a sua história. Criado em Itália, Italo cresceu num ambiente dominado pela ciência e descoberta da natureza, o pai era agrónomo e a mãe botânica, e a sua educação foi livre no pensamento e afastada da religião.
A sua residência, uma pequena fazenda em Villa Meridiana, era também uma estação experimental de floricultura, vendida mais tarde por Italo, em 1978. Crescendo com o seu irmão Floriano, num ambiente de natureza e liberdade, foi moldando a sua sensibilidade, que serviu mais tarde os cenários naturais e exóticos das suas obras literárias. Sentia muita atração pelo teatro, cinema e desenhos animados, algo controverso aos gostos familiares pela ciência.
No entanto, na juventude carregou o peso da História, lutando na Resistência italiana contra o fascismo e a ocupação nazi. Por isso, abandonou a Faculdade de Agricultura, trocando-a mais tarde pela de Letras, seguindo a sua verdadeira aspiração, tornar-se dramaturgo. Toda esta experiência encaminhou o seu percurso literário através de contos e artigos jornalísticos para grandes editoras, nascendo de toda esta trajetória o seu primeiro romance, O Atalho dos Ninhos de Aranha (1947), um grande marco na sua carreira e no neorrealismo italiano. Com este sucesso aventurou-se num mundo fantástico criando personagens que convivam entre a realidade e a metáfora.
A sua envolvência na política e os anos como correspondente jornalístico, serviram de base para a sua postura no mundo, afirmando-se como comunista e pertencendo ao Partido Comunista Italiano durante vários anos. Mas sendo um crítico nato das ideologias e sentindo-se desencantado com a postura do partido após a invasão soviética à Hungria em 1956, Italo desvincula-se da vida política dando rumo à nova fase da sua literatura. Desta ideologia nasce possibilidade de se reinventar, e, portanto, voltou a brilhar com O Visconde Cortado ao Meio (1952) e O Barão das Árvores (1957), este último sendo das suas obras mais célebres.
A partir daqui, assiste-se a um nascimento de personagens que ficam na história como Marco Polo da sua obra As Cidades invisíveis (1972), e a possibilidade dos próprios leitores se tornarem protagonistas da sua leitura em Se Numa Noite de Inverno um viajante (1979). No meio de todas estas “viagens” literárias a que Italo nos acostumou também ele viajou o mundo, voltando às suas origens cubanas, casando com a tradutora argentina Esther Judith Singer com quem teve uma filha, Giovanna. Entre Nova York, Havana e Paris, Calvino expandiu os seus horizontes como escritor e, portanto, escrever para si tornou-se uma interrogação do ato de narrar, não sendo só a arte de contar histórias. Em 1981, alcançou um grande papel no mundo das artes, tornando-se presidente do júri do Festival de Cinema de Veneza.
Nos seus últimos anos, preparava as tão conhecidas Seis Propostas para o próximo Milénio, uma preparação de textos para mais tarde serem apresentados. Leveza, rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade (a última, a consistência, ficou por escrever), conceitos que ainda hoje são tão urgentes. Este último legado, tornou-se público em 1988, deixando-nos uma grande defesa sobre o poder da literatura no século XX.
Um legado que percorreu o mundo. Um homem que tinha raízes nas ciências, mas um fascínio pela política, deixando marcas em todas as artes que amava. O seu legado continua, de espírito italiano, mas com alma cubana onde “escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto”.




