Ronaldo Sousa lidera estudo que defende políticas de Defesa mais sustentáveis.
O aumento do investimento em Defesa proposto pela NATO pode ter fortes impactos na conservação da natureza e da biodiversidade na União Europeia, alerta Ronaldo Sousa, investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Universidade do Minho. As conclusões resultam de um estudo publicado na revista “Ecological Solutions and Evidence”, desenvolvido em coautoria com Joana Nogueira (Universidade do Porto), Stefano Mammola (Universidade de Helsínquia, Finlândia) e Phillip Haubrock (Universidade de Bournemouth, Reino Unido).
A Cimeira da NATO, realizada em junho nos Países Baixos, aprovou que os Estados-membros passem a investir até 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em Defesa até 2035, duplicando o atual objetivo de 2%. Para Ronaldo Sousa, embora a segurança nacional seja “uma prioridade legítima”, esta subida “pode desviar fundos” de setores como a educação, a saúde e o ambiente.
O investigador sublinha que a expansão de infraestruturas militares, os testes com armamento e os exercícios de treino “provocam poluição, destruição de habitats e perturbações em espécies sensíveis ao ruído e à luz”. As estimativas indicam que as operações militares retratam 5,5% das emissões globais de gases com efeito de estufa, contribuindo para o agravamento da crise climática.
Ronaldo Sousa defende uma estratégia que concilie segurança e sustentabilidade, com políticas de defesa que incluam práticas ecológicas, tecnologias menos poluentes, avaliações ambientais obrigatórias e a cooperação entre forças armadas e cientistas. Adicionalmente, destaca o potencial das áreas militares como refúgios de biodiversidade, lembrando que vários países europeus associam zonas de treino à conservação da natureza, através da rede Natura 2000.
A eventual alocação de 5% do PIB à Defesa representa, segundo o investigador, “uma mudança histórica nas prioridades europeias”, mas não deve ser feita à custa do património natural. “As guerras têm um princípio e devem ter um fim, mas a perda de biodiversidade é para sempre”, sublinha Ronaldo Sousa.


