Depois do caos e estética provocadora de Scarlet, Doja Cat está de volta com o seu mais recente projeto, Vie, palavra francesa que em português significa “vida”. Este é o quinto álbum de estúdio da cantora e rapper norte-americana, vencedora de um GRAMMY e reconhecida por muitos como a rainha do pop-rap. A artista de 29 anos distancia-se então das controvérsias e da sua postura polémica, que causaram uma divisão intensa dentro da sua comunidade de fãs e afastou muitos que a acompanhavam desde os primeiros projetos.

Rolling Stone

Doja Cat tem vindo a dar pistas sobre esta nova era desde outubro do ano passado, quando publicou no X/Twitter a palavra “album” e, mais tarde, “vvv”. Porém, os fãs tiveram de esperar longos meses sem qualquer confirmação oficial, apenas publicações enigmáticas e a esperança de que o sucessor de “Scarlet” se aproximava.

A antecipação atingiu o auge quando a artista surpreendeu os fãs com uma transmissão em direto no Instagram, onde deu leak e dançou ao som de novas músicas nunca antes ouvidas, “Acts of Service” e “Lipstain”. Por volta desta altura, Doja também publicou listas de faixas inacabadas e continuou o tease desta nova era.

Finalmente, a artista revelou a data de lançamento do primeiro single, “Jealous Type”, música que já tinha sido usada para um anúncio da Marc Jacobs. Lançada no dia 22 de agosto e produzida por Jack Antonoff e Y2K, a faixa é um hino sobre ciúmes e vulnerabilidade, que combina pop, R&B e influências dos anos 80, marcada por um synth beat e com um refrão imediatamente memorável. Esta faixa estabeleceu então o tom e a atmosfera desta nova era de Doja Cat: um projeto inspirado na música pop dos anos 80, centrado no amor, e nas relações (incluindo a relação consigo própria), e nas emoções complexas que delas emergem.

“Cards”, a primeira faixa do álbum, funciona como uma “intro”, definindo o tom 80s com um instrumental de saxofone e letras que refletem sobre o risco de amar: “Maybe I’ll fall in love, baby / Maybe we’ll win some hearts.” Ao longo de Vie, Doja abraça fortemente a nostalgia dos anos 80, mas sem nunca deixar de lado o seu rap e rimas características. A faixa “AAAHH MEN!” explode em energia e frustração, recordando o espírito de Scarlet. “Silly! Fun!” capta a inocência e o entusiasmo do início de uma paixão, numa batida divertida que convida a dançar, e que Doja descreveu numa entrevista como a sua “love bombing song”.

A artista volta a juntar-se a SZA em “Take Me Dancing”, uma faixa mais ousada sobre idas à discoteca e sensualidade numa relação. “You’re so raw, boy, and you’re so romantic / When you fuck me right, and then you take me dancing”. “Gorgeous” é a faixa do álbum sobre auto-estima e confiança. A artista reforça o quanto ela se sente bonita e atraente, mesmo depois de enfrentar escárnio online pelo seu visual em Scarlet. “I put on a wig and take it off as I damn well please”. O videoclipe desta música teve a participação especial de várias mulheres gorgeous, como Alex Consani, Yseult, Anok Yai, Mona Tougaard, Karen Elson e até da sua própria mãe, Deborah Sawyer.

Para além de músicas pop mais mexidas, Vie inclui também faixas mais calmas e introspectivas estilo R&B, como “Couples Therapy”, “All Mine” e “Happy”, sendo esta última faixa uma música sobre traição, mas também de aceitação, desejando que a outra pessoa encontre felicidade mesmo que não seja com ela. No videoclipe de “Stranger”, a rapper dá vida à capa do álbum, mostrando-se a cair de paraquedas de um avião com um vestido de noiva e tudo o que sucedeu, desde viagens pelo deserto até ser atingida por uma flecha no peito. Liricamente, a artista explora temas de desapego e vulnerabilidade emocional, mais especificamente, a sensação de alguém que era tão próximo se tornar rapidamente num “estranho”.

Outra fonte de inspiração para Doja, tanto na escrita das músicas como na estética visual e criativa do álbum, foi a cidade de Paris e a língua francesa, associadas ao romance e ao amor. Em várias músicas, como “Lipstain” e “Happy”, a artista inclui algumas letras totalmente escritas em francês. “Tu es ma vie et mon tout / Et tout le monde le sait”. Alguns ensaios fotográficos e vídeos promocionais do álbum foram também gravados em Paris, o que mostra o carinho especial que a cantora tem pela cidade.

That Grape Juice

Para fechar o álbum, “Come Back” soa quase cinematográfico, como se tivéssemos a ouvir a última cena de um clássico dos anos 80. É, porém, a música mais fraca do álbum, por ser a menos memorável e pela batida um pouco repetitiva.

É importante apontar que, apesar de uma ou outra música menos marcante, este álbum é objetivamente um dos mais consistentes e coesos de Doja, tanto pela sua sonoridade como pela estética. Com Vie, a artista mostra maturidade em relação a álbuns passados, mas também versatilidade, ao provar que consegue se reinventar sem perder a sua identidade e autenticidade. Os fãs portugueses terão a oportunidade de ver de perto esta nova era de Doja Cat, já que a artista, que atuou em Lisboa no Rock in Rio em 2024, regressa a Portugal em 2026, desta vez no Meo Arena com o Ma Vie World Tour, para trazer à vida este seu novo e vibrante projeto.

Expresso